A organização WikiLeaks divulgou, nesta quinta-feira, um banco de
dados com informações sobre "sistemas de interceptação de massa".
Trata-se de um mapa mundial com empresas de inteligência ligadas à filtragem de
informações de pessoas da sociedade civil.
"Esta indústria é, em
prática, não-regulada. Agências de inteligência, forças militares e autoridades
policiais são capazes
de, em massa ou silenciosamente, interceptar ligações e
tomar computadores sem a ajuda ou o conhecimento de
provedores de
telecomunicação", diz o texto do projeto, denominado "The Spy
Files" ("Os arquivos de espionagem", em
tradução livre).
Os dados liberados hoje, segundo
o WikiLeaks, representam o primeiro bloco de "centenas de documento de 160
empreiteiras da inteligência na indústria da vigilância de massa". A
investigação, descrita como um "projeto em curso", é
levada a cabo
com organizações de investigação e mídia de seis países. Entre eles estão o
Escritório de Jornalismo
Investigativo do Reino Unido (The Bureau of
Investigative Journalism in the UK) e o jornal Washington Post, dos
Estados
Unidos.
"Nos últimos dez anos,
sistemas para vigilância indiscriminada de massa tornaram-se a norma.
Companhias de inteligência,
como a VASTech, vendem equipamentos para gravar
permanentemente ligações telefônicas de nações inteiras", diz o
comunicado
da WikiLeaks. "Há firma comerciais que agora vendem softwares espeicias
que analisam esses dados e
transformam-no em poderosas ferramentas que podem
ser usadas por agências militares e de inteligência."
O mapa disponilibilizado no site
da organização enumera as empresas que praticam este tipo de serviço,
especificando o
tipo de vigilância (como conversas telefônicas, mensagens de
celular, monitoramento de internet, vírus de computador e
localização de sinais
de GPS).
No Brasil, a única empresa
citada é a Suntech Intelligence, com sede em Santa Catarina. De acordo com o
gerente de
marketing da empresa, Juliano Vasconcelos, a companhia é brasileira,
existe há 15 anos e atua no mercado de
telecomunicações. Seu principal produto
é o Vigia, um sistema de interceptação legal que faz auditoria da rede da
operadora e evita que ocorram grampos ilegais.
"Ou seja, se um técnico de
uma operadora fizer um serviço de desvio de chamada, um grampo ilegal, o Vigia
analisa o que
está programado na central e o que está sendo feito. Então, se
houve alguma interceptação que não foi cadastrada no
Vigia, o sistema corta a
configuração", disse, garantindo que a operação da tecnologia e a
manutenção de bancos de
dados ficam à cargo dos clientes e não da Suntech
Intelligence.
Segundo Vasconcelos, o Vigia foi
criado para garantir de que a operadora consiga manter o sigilo das
informações. As
interceptações são feitas por ordem judicial e tem o áudio
direcionado para autoridades como a Polícia Federal
responsáveis pela escuta. O
gerente diz que a empresa esteve, inclusive, no CPI dos Grampos, em 2008, onde
falou sobre a
tecnologia e recebeu elogios.
Vasconcelos diz que entre as
empresas citadas pelo WikiLeaks, várias, inclusive a própria Suntech, estiveram
presentes
em edições do evento Intelligence Support System for Lawful
Interception, Criminal Investigations and intelligence
Gathering (ISS World),
voltado para empresas que atuam na área. Segundo ele, algumas destas companhias
atuam em
países onde governos e agências de inteligências interceptam diversas
fontes de dados, mas lembra que esse não é o
caso do Brasil.
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